‘Jogos Vorazes: A cantiga dos pssaros e das serpentes’ o mais ambicioso da franquia


 (Lionsgate/Divulga
Lionsgate/Divulgao

Entre as várias tentativas de criar uma franquia de ficção científica infanto-juvenil no pós-Harry Potter, os quatro Jogos Vorazes, lançados entre 2012 e 2015, foram os únicos que conseguiram não apenas imensa repercussão na bilheteria (os dois primeiros ultrapassaram a marca dos $ 400 milhões só nos Estados Unidos), mas também consolidar uma estrela do calibre de Jennifer Lawrence, que se tornou à época uma das mais caras atrizes de Hollywood. Passada quase uma década de Jogos Vorazes: A esperança – O final, último capítulo da heroína Katniss Everdeen, a série cinematográfica baseada nos livros de Suzanne Collins está de volta com Jogos Vorazes: A cantiga dos pássaros e das serpentes, já em cartaz.

 

A trama, baseada no livro homônimo da mesma autora, é ambientada quase 70 anos antes dos eventos dos filmes anteriores e se passa durante a 10ª edição dos Jogos Vorazes – evento anual da nação futurista Panem no qual a Capital obriga os 12 distritos a enviarem tributos para lutarem até a morte em uma arena televisionada. Num período em que o propósito dos jogos ainda não parece tão bem definido e a audiência está em queda, Coriolanus Snow (Tom Blyth) – que se tornaria o tirano presidente interpretado por Donald Sutherland – é um aprendiz incumbido da mentoria da jovem Lucy Gray (Rachel Zegler), garota tributo selecionada do Distrito 12. A relação entre mentor e tributo, que já começa incomum nas ações ousadas de Snow para ajudar a jovem, se entrelaça e se intensifica para além dos jogos.

Dividido em três capítulos, A cantiga dos pássaros e das serpentes é o Jogos Vorazes de maior duração, estruturalmente o mais ambicioso e, inevitavelmente, o mais trágico, tentando conciliar em 2h30 um arco complexo que alguns diriam caber melhor em uma minissérie. Narrar as origens de um vilão de forma que a plateia se envolva emocionalmente e identifique desde cedo suas contradições é uma façanha do diretor Francis Lawrence, que comanda a saga desde Jogos Vorazes: Em Chamas. Não só um cineasta competente na condução da ação e de domínio total da mitologia, Lawrence tem também uma sobriedade invejável e consegue, desde o segundo filme, levar o material a sério dentro de todas as limitações de uma distopia adolescente.

Buscando uma identidade visual própria, a fotografia abusa da lente grande-angular, que deixa tudo em foco mesmo quando a câmera está muito próxima aos atores e, dessa forma, valoriza a direção de arte ainda mais do que nos outros filmes da série. Por acompanhar os bastidores dos jogos, A cantiga dos pássaros e das serpentes consegue trabalhar em maior detalhe os temas (espetacularização da guerra, politização das performances, manipulação da mídia) e as caracterizações apropriadamente exageradas de Viola Davis, como a idealizadora, e de Jason Schwartzman, no papel do apresentador, são centrais no tom de sátira. Rosto pouco conhecido que deve chamar atenção a partir daqui, Tom Blyth carrega os conflitos de Snow – do orgulho, passando pelo romantismo, à raiva reprimida – com intensidade impressionante. Apesar de não possuir e a gravidade de Jennifer Lawrence, Rachel Zegler tem a favor da personagem a graciosidade bastante oportuna de uma artista sem qualquer traquejo de batalha, além de belíssima voz.

Não-iniciados na franquia podem encontrar aqui um enredo autônomo e envolvente, visto que o filme não depende exclusivamente de referências para funcionar – o que em tempos de projetos com aspecto de subproduto é uma raridade. No entanto, sem dúvida é um programa bem mais engajante tanto no drama quanto na mitologia para quem assistiu os demais e estava na dúvida se esse universo tinha potencial de expansão. Sólido e arrojado, A cantiga dos pássaros e das serpentes prova que sim. 

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