Após vitória de Milei, vale a pena investir na bolsa Argentina? | Investimento no Exterior


O principal índice de ações da Argentina registrou valorização de 22,84% no primeiro dia de negociação após a eleição do candidato ultraliberal Javier Milei, que assumirá como presidente do país no dia 10 de dezembro. Das 24 ações presentes na carteira do S&P Merval, 23 registraram alta.

A ação da Transener liderou o ranking, com um ganho de 42,77%, seguida pela ação da Transportadora de Gás del Norte, com uma valorização de 41,09%, e a ação da Telecom Argentina fechou o pódio, apresentando uma alta de 40,24%. A YPF, única estatal listada em bolsa do país, valorizou 38,62%, segundo dados compilados por Einar Rivero, na Investing.com.

Após a eleição, o governo acelerou a desvalorização do peso, e muitas reformas passam pelo alívio da pressão cambial. De forma a escapar do risco do peso argentino, é possível aplicar em ações de empresas argentinas via ADRs, recibos de ações negociados nas bolsas americanas. Essas aplicações são cotadas em dólar e podem ser encontradas em corretoras que atuam no exterior, como a Avenue e o C6.

Veja abaixo o desempenho de ADRs de empresas do país no acumulado do ano:

Os ADRs de empresas argentinas podem ser pesquisados pelo seu código de negociação, o chamado ticker, nas plataformas das corretoras. Veja abaixo uma lista:

ADRs de empresas argentinas — Foto: Reprodução
ADRs de empresas argentinas — Foto: Reprodução

A YPF registrou prejuízos após ter sido reestatizada, pois voltou a ser manuseada pelo governo em crises, como a pandemia da covid-19, aponta Daniella Lopes, analista da Nord. Ações de energia, que ao longo do último governo, passaram a ser usadas como instrumentos também, por isso estão subindo agora. Já bancos sobem por conta de potenciais melhorias na economia.

Eirini Tsekeridou, analista do banco suíço Julius Baer, espera que a volatilidade permaneça no mercado de renda variável argentino até que a linha do tempo da agenda de reformas e os nomes-chave do gabinete sejam conhecidos, especialmente em relação ao Ministro da Economia.

As ações do país vinham de um patamar muito depreciado por conta de uma onda de notícias ruins, como o aumento da pobreza no país, a escalada da inflação e da dívida pública. A partir do momento em que Milei começou a ir bem nas prévias, iniciou um movimento especulativo de que as condições e cenário do país poderiam mudar.

O mercado financeiro reage bem a Milei porque os investidores têm a percepção de que suas ideias trariam melhores resultados econômicos frente a uma visão populista e protecionista.

Bernardo Howes, assessor de investimentos e especialista em política da Ável, vê uma oportunidade para investidores com perfil arrojado de investir na YPF, apostando em uma potencial privatização, reiterada no discurso pós-eleição de Milei, assim como o investidor brasileiro viu a oportunidade de investir na Eletrobras durante o governo de Michel Temer e Bolsonaro.

Outras empresas do país também podem se beneficiar de um ambiente “pró-mercado”. “Se Milei não aprovar privatizações de largada, mas só reduzir a inflação e o endividamento publico, já abrirá espaço para melhorar o país. Por isso, empresas privadas, que não dependem tanto de vontade política, oferecem menos risco para os investidores, pois podem se valorizar apenas com a evolução do crescimento econômico“.

Mas o risco de ambas as estratégias não é desprezível. Tsekeridou aponta que a governabilidade será o desafio principal de Milei, uma vez que ele não conta com o apoio do Congresso. “Ele terá de moderar sua retórica para poder negociar com os outros partidos no Congresso e impulsionar sua agenda”. Howes reforça, e aponta que o novo presidente terá de lutar contra sindicatos e construções sociais arraigadas no país. “Ele pode acabar com subsídios para resolver distorções, mas no processo pode criar outras”.

Outro desafio que o novo presidente terá de enfrentar é o ambiente econômico ruim, com a inflação em alta, pressões cambiais e situação fiscal frágil. Além disso, como as metas de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) não estão sendo atendidas, uma renegociação será necessária.

Argentina — Foto: Getty Images
Argentina — Foto: Getty Images



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