No final da década de 80, a ditadura militar já tinha acabado, mas o Serviço Nacional de Informações (SNI), os comandos militares e a Polícia Federal ainda mantinham seus serviços de inteligência vigiando desafetos do antigo regime. Um dos monitorados era Flávio Dino, ministro da Justiça, que esta semana foi indicado pelo presidente Lula para ocupar uma no Supremo Tribunal Federal.
Um relatórios produzidos pela Polícia Federal em março de 88, por exemplo, discorria sobre a eleição do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Flávio Dino, que cursava Direito, tinha sido eleito coordenador da entidade.
A PF dizia que a chapa, denominada “Desacato”, tinha sido apoiada pelo PT e defendia, entre outras propostas, eleições diretas para os cargos de direção acadêmica, orçamento participativo da universidade e aumento da representação estudantil — ideias, evidentemente, perigosíssimas. O relatório foi difundido para os centros de inteligência do Exército, Marinha e Aeronáutica, uma senha para redobrar a vigilância sobre o estudante.
Derrubando os portões da UFMA
Em junho de 1988, o SNI produziu um relatório confidencial sobre uma manifestação na UFMA. Durante uma consulta plebiscitária para escolha de reitores, Flávio Dino e seu grupo, descontentes com o fato de terem sido proibidos de entrar no local onde seria discutida a nomeação do reitor, pressionaram a segurança e derrubaram parcialmente portões de acesso à reitoria.
O relatório do SNI cita Flávio Dino como um dos líderes responsáveis por insuflar o protesto. “Esse público, onde a maioria era de estudantes e professores, não se conformou com a medida e, proferindo palavras de ordem, passou a pressionar os guardas de segurança da UFMA, responsáveis pelo controle dos portões de acesso à reitoria, insuflados, principalmente, pelos atuais coordenadores do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMA”. Entre eles, Flávio Dino, diz o relatório.
Apoio ao candidato do PT
O atual ministro da Justiça também era monitorado em função de seu apoio ao então presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. Em novembro de 1989, os serviços de inteligência difundiram um relatório do SNI sobre a mobilização do movimento estudantil para apoiar a campanha de Lula.
No Maranhão, o PT tinha realizado um seminário estadual da juventude, evento coordenado por estudantes, entre eles Flávio Dino. Nestas reuniões foram debatidos temas como a candidatura de Lula, o socialismo, a preparação da campanha presidencial e a elaboração de um trabalho para capitalizar eleitoralmente a juventude, especialmente aquela incluída na faixa etária entre 16 e 18 anos — um perigo, sem dúvida.