Vale a pena comprar peso argentino? Entenda | Finanças


Nos últimos anos, a Argentina, em razão de sua crise econômica, se tornou sinônimo de viagem barata para os brasileiros. Um dos motivos é a desvalorização do peso em relação ao dólar e real.

Na cotação atual, feita pelo Valor no site do Banco Central do Brasil, R$ 1 equivale a 161,34 pesos argentinos. Em relação à moeda dos Estados Unidos, US$ 1 vale 799,95 pesos argentinos.

Afinal, vale mais a pena comprar pesos ou levar dólar e/ou real para viagem? Em entrevista ao Valor, a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, comentou a questão.

“Numa situação anterior ao governo [de Javier Milei], era vantagem, por exemplo, levar o dólar e fazer a troca lá, porque tinha mais poder de barganha, tinha uma moeda forte na mão e ia trocar por uma moeda fraca”, explicou.

Ela frisa que hoje essa situação se acentuou. “Piorou na medida em que o governo desvalorizou o câmbio oficial. O câmbio que a gente compra na rua, que é o dólar blue, é um mercado ilegal. É uma coisa normalizada na rua, nas casas de câmbio. Mas não é o câmbio oficial do país. Como o governo desvalorizou [o dólar] para 800 pesos, esse movimento vai refletir mais ainda na questão do câmbio blue. Vai piorar”, destacou.

Beni se refere a uma medida recente do governo de Javier Milei, de aumentar o dólar no câmbio oficial de 400 para 800 pesos. Além disso, a gestão recém empossada anunciou, por meio do ministro da economia, Luis Caputo, novas regras de comércio exterior e a redução dos subsídios das tarifas de transporte e serviço.

Segundo a economista, a melhor opção para os turistas é levar o cartão de crédito ou pré-pago. “A melhor coisa ainda vai ser usar o cartão de crédito ou pré-pago. Ou levar dólar”, afirmou Beni.

Outra opção para quem vai viajar para a Argentina, aponta a economista, é o real brasileiro.

“Se você estiver com uma viagem marcada para uma cidade grande da Argentina, pode levar reais. No interior, vai ter que fazer a troca por pesos. E aí a recomendação é fazer trocas de pequena monta. Ou seja, trocar, usar por um, dois dias, e trocar de novo, porque a desvalorização é muito grande”, afirmou

Então, segundo a economista, quem vai passar uma semana na Argentina, não deve trocar todos os dólares no primeiro dia. “É preciso fazer trocar fracionadas, quase que dia a dia, para ver o que vai acontecer com a moeda”, disse.

Quanto à especulação por parte de investidores, Beni faz um alerta. “Para especular em cima de uma moeda que só está desvalorizando, você teria que imaginar que depois ela vá valorizar — por exemplo, eu vou comprar agora porque daqui dois anos vai valorizar. [No caso da Argentina], você estará comprando uma moeda agora na expectativa de que daqui dois anos ela não exista mais. O próprio presidente não quer a moeda oficial do país. Ele está desvalorizando o peso para substituí-lo [pelo dólar]”.

Em nota enviada ao Valor, o Grupo Travelex Confidence, que atua no mercado de câmbio, disse que “a recomendação é adquirir o peso aos poucos, para garantir um bom preço médio”.

“Separar um valor mensal em reais para realizar a compra de moedas estrangeiras é uma forma de evitar surpresas no orçamento, além de contribuir para uma boa organização financeira, já que a oscilação na cotação é inevitável quando se trata do mercado de câmbio. São diversos os fatores econômicos que influenciam nessa volatilidade”, ressaltou a empresa.

A Confidence salienta que “seja para a Argentina, ou qualquer outro destino, a recomendação é sempre estar atento às taxas cambiais, que passam por flutuações diariamente. Além da compra antecipada e gradual da moeda, que é uma estratégia para evitar os impactos dessas oscilações, a diversificação dos meios de pagamento é também muito importante.”

Por fim, a corretora recomenda levar para Argentina um pouco do peso em espécie, o que pode ajudar em casos de pequenos gastos e imprevistos, como táxis e alimentação rápida e o uso de cartões pré-pagos internacionais.

Além do dólar blue, Argentina conta com 13 cotações de dólar

Taxa de câmbio do circuito informal, a operação do dólar blue é considerada ilegal. Ainda assim, é comum em toda Argentina. Segundo o jornal “El Cronista”, nesta quarta-feira, a moeda está cotada em 1.040 pesos para compra e 1.070 para venda.

Além do dólar blue, o país conta com 13 cotações diferentes de dólar. São elas:

1 – Dólar do atacado (“mayorista”) — Taxa de câmbio oficial. Nela, o Banco Central libera dólares para importadores e bancos que demandam divisas para operações no exterior. Contudo, o BC capta (liquida) dólares da venda dos exportadores.

2 – Dólar de varejo (“minorista”) — Preço pelo qual os bancos vendem dólares para seus clientes, desde que apresentem comprovação da necessidade de obtê-los (como para viagens ao exterior, por exemplo). São limitados a US$ 200 por mês.

3 – Dólar solidário — Baseado no dólar de varejo. É aplicado à sobretaxa de imposto de 65% na compra de passagens aéreas, por exemplo.

4 – Dólar turismo — Sobretaxada, é usada em operações de compra por parte de argentinos (principalmente com cartão de crédito) no exterior.

5 – Dólar turismo para estrangeiros Cotação limitada a US$ 5 mil, para tentar captar parte dos dólares do turismo estrangeiro. A partir dela, os visitantes podem trocar seus dólares no mercado oficial, sem recorrer ao mercado paralelo. A taxa é mais próxima do dólar MEP ou da CCL.

6 – Dólar MEP ou dólar-bolsa — É uma taxa de câmbio aplicada aos títulos soberanos no mercado de ações. Obtém-se comprando um título público com pesos e depois vendendo-o ao seu preço em dólares.

7 – Dólar “contado con liqui” (CCL) — É uma operação semelhante à do dólar MEP, mas os dólares resultantes são depositados no exterior. A transação é normalmente realizada com títulos com liquidez em 48 horas.

8 – Dólar cripto — É uma alternativa para quem opera com criptomoedas estáveis. A cotação é próxima à do dólar CCL.

9 – Dólar ‘Netflix’ — Os serviços de streaming, como a Netflix, são pagos em dólares pelo cartão de crédito. Além disso, são pagos à taxa de câmbio de varejo mais uma sobretaxa de 45% para o Imposto de Renda antecipado.

10 – Dólar soja ou dólar de exportação — Taxa de câmbio recebida pelos exportadores que recebem pagamentos em dólares.

11 – Dólar Senebi (Segmento de Negociação Bilateral) — As corretoras pactuam os preços de compra e venda de cada título. Esse preço, no entanto, pode variar entre as diferentes corretoras e, em geral, inclui as comissões que a operadora cobra de seu cliente.

12 – ADR em dólares — Ações que são cotadas simultaneamente em pesos e dólares externamente. A operação é utilizada somente por empresas que operam no exterior.

13 – Dólar Cedear (Certificado de Depósito Argentino) — Usado por empresas em operações de títulos comprados em pesos e conversíveis em moeda estrangeira.

*Estagiária sob supervisão de Diogo Max

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