Cartões de Natal Digital – Jornal O Impacto


Por Carlos Augusto Mota Lima

Dezembro chega manso como as águas do Rio Tapajós, com ele uma certa nostalgia, os dias cinzentos, prenúncio das monções amazônicas que se aproximam, é natal, outrora, as pessoas começavam uma corrida às livrarias em busca de cartões de natal.

Caramba! Era muito legal, cartões de todos os tipos, inclusive, musical, a gente comprava de acordo com o grau de amizade que mantínhamos com os pretensos destinatários. Em casa, hora de escrever uma bela mensagem, época em que as pessoas ainda usam canetas, lá, a dedicatória era por conta.
Havia uma certa magia, um encanto, pra quem entregava e, principalmente, para quem recebia os cartões. Já se perguntou quantos você presenteou? Quantos recebeu?

Eram lindos, também, não eram baratos, estou falando de uma época que existiam livrarias, acho que essa geração Hamburg não conheceu ou nunca entrou em nenhuma, estou falando de um período que existiam bibliotecas públicas em que alunos das escolas públicas reuniam-se para estudar e fazer pesquisas, mas isso é passado, o hábito de leitura nunca foi o nosso forte, hoje, estamos anos luz piores nesse campo.

Essa magia do natal, embora permaneça, aos poucos perde a importância, da mesma forma que os cartões sumiram, sucumbiram ante as novas tecnologias, daqui há alguns anos, quem sabe, as árvores de natal, também, sejam vistas somente nas telinhas dos celulares.

Já perguntou pro seu filho se ele já ouviu falar em “Cartões de Natal? Certamente os jovens, embora, de alguma forma tentem ser românticos, jamais, terão a oportunidade de viver aqueles momentos que se eternizaram em nossas mentes.

Vivemos suspensos por fios tecnológicos, perdemos a sensibilidade, o calor humano, criamos novas formas de comunicação, escrevemos menos, falamos pouco, tudo em nome da tecnologia, pra que escrever se posso gravar um áudio mesmo caminhando? pra que mandar um cartão de natal se posso mandar um digital personalizado? Posso enviar um link pra várias pessoas? Pouco importa se receberão ou não? Pouco importa qual será a reação dos que recebem, o importante é enviar, dá um alô, dizer que lembrou, nem que isso seja feito despido de qualquer sentimento.

Continuo achando que nesse ritmo, com esse distanciamento cada dia mais ficamos absolutamente vulneráveis a doenças como a depressão, os filhos dessa geração pouco ou quase nada interagem, mesmo quando estão na pizzaria, no restaurante, no bar, a cena é deprimente, cada um no seu canto cutucando o celular, até quando? Na ceia de natal não será diferente.

Com o fechamento das livrarias, com o surgimento dos cartões digitais só nos reta uma certeza: estamos a cada dia, cada minuto ficando robotizados, sem alma, mecânicos, sem sentimentos, sem possibilidades de olhar alguém nos olhos e lhes falar alguma coisa que fique eternamente em seus arquivos cerebrais, sem possibilidades de entregar um belo cartão de natal, com uma inesquecível dedicatória. Nada disso mais é possível, estamos tecnológicos demais.

A vida moderna, nos robotiza, reduz as distâncias, nos globaliza, nos tribaliza, nos escraviza a tal ponto de perdermos a sensibilidade, o amor ao próximo, o calor humano, esse é o preço do avanço tecnológico, não sei o que é melhor, só tenho uma certeza: isso é irreversível, não tem volta, quanto mais tecnológicos, menos alma, menos coração, menos amor ao próximo, afinal, computador não tem coração, ainda.

Feliz natal, um natal digital, quem sabe, no próximo natal, as confraternizações das empresas sejam através de vídeos conferencias, cada qual na sua casa brindando virtualmente pelas redes sociais.

Santarém. 19 de dezembro de 2023

*Carlos Augusto Mota Lima, advogado.

 

 



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