‘Para jogar no lixo da História’


Com mais de 70 milhões de livros vendidos, a saga Percy Jackson definitivamente marcou a literatura de fantasia infantojuvenil desde que começou a ser publicada, em 2005 (no Brasil, em 2008). Os primeiros cinco livros da série — finalizados em 2009 com “O último olimpiano” —, aliás, marcaram um período que foi o auge desse tipo de produção. Não à toa, diversas sagas foram adaptadas para o cinema, como “Jogos vorazes”, “Divergente” e a do próprio Percy Jackson.

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A primeira adaptação das histórias do personagem no audiovisual veio em dois filmes. “Percy Jackson e o ladrão de raios” (2010) e “Percy Jackson e o Mar de Monstros” (2013) faturaram, juntos, mais de US$ 420 milhões e criaram uma nova base de fãs. Muitos que, inclusive, não tinham lido os livros. Mas isso não excluiu o desempenho ruim com os fãs originais e a crítica, que detonou ambos.

— Nunca assisti aos filmes. Li os roteiros e isso foi suficiente para saber que partiria meu coração — diz Rick Riordan, autor dos livros, em entrevista ao GLOBO por e-mail. — Se você ainda não leu os livros, entendo que os filmes são um entretenimento razoavelmente bom. Mas, se for entrar esperando uma adaptação fiel, ficará amargamente desapontado.

Riordan, aliás, atuou em conjunto com toda a equipe na produção da série no Disney+ que estreia nesta quarta-feira: a novidade despontou em 2020, quando nem o fã mais entusiasmado das aventuras de Percy (que é o filho de Poseidon) e seus amigos Annabeth e Grover, em meio aos deuses da mitologia grega, imaginava o que viria. Em maio daquele ano, Rick Riordan anunciou que “O ladrão de raios” (o primeiro da série de livros) seria adaptado para o streaming.

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Riordan conta que leu todos os roteiros, ajudou na escrita e até se sentou na sala de roteiristas. Além disso, visitou frequentemente o set. Não à toa, quer fazer disso uma oportunidade para que os filmes de 2010 e 2013 sejam esquecidos de vez.

— Uma das principais razões para fazermos esse programa foi produzir uma adaptação da qual eu pudesse me orgulhar e, com sorte, jogar os filmes antigos na lata de lixo da história —completa.

Depois do anúncio de 2020, já este ano, Riordan novamente se pronunciou para dizer que retornaria às obras originais.

Todo o universo continuou além da saga inicial. Riordan escreveu outro conjunto de cinco livros, com novos personagens e os já conhecidos, chamada “Heróis do Olimpo”, lançada entre 2010 e 2014. O que viria pela frente, então, anunciava o autor, seria uma continuação direta daquelas histórias dos anos 2000.

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O que talvez poucos saibam é que isso e a série são acontecimentos conectados. “O cálice dos deuses”, a primeira parte de uma nova trilogia (iniciada agora e que terá novos livros em 2024 e 2025), já vinha com o plano de retomar toda a saga infantojuvenil graças ao “boca a boca” do público.

— O livro aconteceu por causa do nosso envolvimento com o novo programa. Minha esposa, Becky, e eu fomos a Hollywood para tentar convencer a Disney a adaptar a série original. Como parte desse esforço, sugeri que poderia escrever novos livros de Percy para promover o programa. Mas os executivos ficaram entusiasmados com a série por si só. Fiquei com essas novas ideias e comecei a pensar em escrever — conta Riordan.

Rick Riordan, criador de 'Percy Jackson: “Nunca assisti aos filmes. Li os roteiros e isso foi suficiente para saber que partiria meu coração. Se você ainda não leu os livros, entendo que os filmes são um entretenimento razoavelmente bom” — Foto: Divulgação/Becky Riordan
Rick Riordan, criador de ‘Percy Jackson: “Nunca assisti aos filmes. Li os roteiros e isso foi suficiente para saber que partiria meu coração. Se você ainda não leu os livros, entendo que os filmes são um entretenimento razoavelmente bom” — Foto: Divulgação/Becky Riordan

Além do novo livro retomar a “saga” original, ele também traz elementos que não existiam mais no universo desde 2009. Um deles é a escrita de Percy em primeira pessoa. Mas como um personagem completamente diferente.

Enquanto as tramas dos anos 2000 retratavam um jovem com dilemas do fim da infância, mas com a necessidade de entender sua conexão com o mundo dos deuses, aqui ele está mais velho e buscando chegar até a faculdade. E não qualquer uma, mas a Universidade Nova Roma, que os semideuses frequentam. Para chegar até lá, precisa receber três cartas de recomendação de três deuses diferentes. A história toda de “O cálice dos deuses” retrata uma tarefa para a primeira carta.

O amadurecimento trazido pelo tempo também fez a nova obra adotar tons mais adultos. O protagonista lida com o fato de que não se tornará imortal (decisão que aparece nas obras anteriores) e vai acabar morrendo um dia. Do mesmo jeito, precisa entrar em contato com seres que não querem que o tempo e a chance da morte sejam um problema.

— Não tento mudar para adequar aos leitores mais velhos, porque então ela não seria mais a mesma. Só que uma parte do meu público cresceu. Mas sempre há novas gerações de jovens chegando que gostam de Percy Jackson. Não quero excluí-los ou confundi-los escrevendo de repente obras mais adultas com os mesmos personagens — afirma Riordan.

O autor, no entanto, compreende que ele próprio mudou e as tramas podem ter mudado por conta do tempo que passou:

— É claro que mudei, e o mundo também. Espero ser um pouco mais sábio, não apenas mais velho, então talvez isso me ajude a ser um pouco mais reflexivo nesta nova história.

‘O cálice dos deuses’. Autor: Rick Riordan. Tradutor: Regiane Winarski. Editora: Intrínseca. Páginas: 272. Preço: R$ 59,90.



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