Vacina contra dengue é incorporada ao SUS – 21/12/2023 – Equilíbrio e Saúde


O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (21) a incorporação da vacina da dengue ao SUS. A vacinação deve começar em fevereiro de 2024, mas não será utilizada em larga escala em um primeiro momento.

Segundo o ministério, o laboratório Takeda, fabricante da vacina Qdenga, afirmou que tem uma capacidade restrita de fornecimento de doses. Por isso, a vacinação será voltada a público e regiões prioritárias.

“O Ministério da Saúde avaliou a relação custo-benefício e a questão do acesso, já que em um país como o Brasil é preciso ter uma quantidade de vacinas adequada para o tamanho da nossa população. A partir do parecer favorável da Conitec [comissão que avalia a incorporação de tecnologias no SUS], seremos o primeiro país a dar o acesso público a essa vacina, como um imunizante do SUS”, disse a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

De acordo com ela, o ministério fará a definição do público-alvo levando em consideração a limitação da empresa Takeda em relação ao número de vacinas disponíveis. Regiões com maior incidência da doença terão prioridade.

A definição dessas estratégias deve ocorrer nas primeiras semanas de janeiro. Segundo o laboratório, a previsão é que sejam entregues 5.082 milhões de doses em 2024, entre fevereiro e novembro. O esquema vacinal é composto de duas doses.

Desde que o registro da vacina Qdenga foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março de 2023, postagens nas redes sociais questionavam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito da demora na incorporação do imunizante ao SUS.

Atualmente, só é possível se vacinar na rede privada, onde o imunizante é ofertado por preços que variam de R$ 300 a R$ 800 a dose.

Os casos de dengue estão em alta no país e preocupam especialistas e agentes de saúde. Só neste ano (até 2 de dezembro), o Brasil teve 1,6 milhão de casos, 15,8% a mais do que o mesmo período do ano passado, com aumento também de mortes no período —de 999 para 1.053. A cidade de São Paulo também registrou um aumento de 9% nas mortes em 2023.

“O ano de 2023 foi realmente diferente. Tivemos essas mudanças ocasionadas pelo fenômeno do El Niño. E, depois de muito tempo, encontramos os quatro sorotipos (1, 2, 3 e 4) circulando ao mesmo tempo no Brasil, uma situação bem incomum”, disse a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel.

O Ministério da Saúde informou que, além da vacina, investirá R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses.

Segundo Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, no processo de incorporação do imunizante, o ministério conseguiu uma redução de 80% do preço inicialmente apresentado, representando uma economia de mais de R$ 380 milhões ao SUS.

A consulta pública foi realizada em caráter de urgência, por um período de dez dias, e recebeu mais de 2.000 contribuições. Durante as negociações com o fabricante, a pasta conseguiu uma redução de 44% no custo por dose: passando da oferta inicial de R$ 170 para R$ 95.

“O passo seguinte é estimular a capacidade produtiva do país, incentivar os processos de inovação e transferência de tecnologia para ampliar a oferta de produtos para a população”, diz Gadelha.

O imunizante reduz casos e, especialmente, a hospitalização pela doença. A estratégia será somada a outras formas de combate aos subtipos do vírus que circulam no Brasil, principalmente com ações de controle ao Aedes aegypti.

O imunizante Qdenga tem registro na Anvisa com indicação para prevenção de dengue causada por qualquer sorotipo do vírus para pessoas de 4 a 60 anos de idade, independentemente de exposição prévia. É composto por quatro sorotipos diferentes do vírus, deve ser aplicado em um esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações.

Em outubro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) passou a recomendar a vacina,

Além da Qdenga, uma outra vacina contra a dengue está sendo produzida no país. O Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica MSD (sigla em inglês para Merck Sharp and Dohme), está desenvolvendo uma vacina de dose única, chamada Butantan-DV.

O imunizante é derivado de uma tecnologia do Instituto Nacional de Saúde (National Institutes of Health, em inglês), dos Estados Unidos, licenciada em 2009. As fases 1 e 2 do ensaio clínico foram desenvolvidas nos EUA (2010-2012) e no Brasil (2013-2015), respectivamente. As informações estão disponíveis no Portal do Butantan, em publicação de 16 de dezembro de 2022.

As duas primeiras fases do ensaio clínico mostraram que a vacina induz a produção de anticorpos contra os quatro sorotipos do vírus, o que, segundo o Instituto Butantan, é o maior desafio na produção de um imunizante contra a dengue. A dificuldade se explica pelo fato de que é possível ser infectado mais de uma vez pelos diferentes sorotipos, com chances de agravamento da doença e risco de morte.

Já os resultados preliminares da fase 3, que teve início em 2016, mostraram uma eficácia de 79,6% para evitar a doença. Os dados foram obtidos a partir do acompanhamento por dois anos de mais de 16 mil brasileiros que receberam a vacina.

Durante o período delimitado, nenhum participante do ensaio apresentou caso grave da dengue. Foram avaliados voluntários de 2 a 59 anos de idade. A previsão para finalização do estudo é 2024, quando o último participante completar cinco anos de acompanhamento.



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