por que o termo é ofensivo?


Se você está acompanhando o BBB 24, viu que o cantor Rodriguinho é o segundo líder da edição e teve de colocar três pessoas na mira de sua indicação ao paredão. Entre elas, escolheu a dançarina e influenciadora digital manauara Isabelle Nogueira, a quem se referiu como “índia” durante o programa ao vivo. Mas o termo, que por muito tempo foi usado para descrever pessoas indígenas e povos originários, é atualmente considerado ofensivo.

Após a exibição do programa, a sister explicou para o novo líder o motivo pelo qual o termo não é mais utilizado. “É meio que pejorativo. Porém o mundo está compreendendo isso agora. É indígena ou povo originário“, disse Isabelle, que é descendente de indígenas e Cunhã Poranga da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido.

O cantor também chegou a receber a mesma orientação de Wanessa Camargo. “Cuidado para não falar ‘índia’. Não pode falar ‘índia’. É descendente indígena, mas ela é manauara”, afirmou a cantora. O apresentador Tadeu Schmidt também pediu para que Rodriguinho se referisse às pessoas pelo nome delas, caso soubesse.

Por que não é correto usar o termo ‘índio’ para descrever uma pessoa indígena?

No BBB 24, Isabelle dá uma explicação para Rodriguinho. “Índia foi quando o colonizador chegou no Brasil e quis falar que parecíamos o povo da Índia, porque ele errou de caminho.”

A explicação que ela dá é a mesma do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): o órgão define que o termo vem da confusão do colonizador Cristóvão Colombo que, ao chegar na América do Sul, entendeu que havia chegado na Índia. Portanto, renomeou os povos originários como “índios”.

A Marie Claire, a ativista ambiental e comunicadora Samela Sateré Mawé ressalta que o termo é pejorativo por ser acompanhado de estereótipos para se referir a pessoas indígenas.

“Além de não nos representar, o termo é usado para se referir a nós de forma preconceituosa. Falas do tipo ‘índio sujo’, ‘índio preguiçoso/que não trabalha’, ‘índio não tem alma’ ou ‘índio não sabe falar isso ou aquilo’… Sempre são termos carregados de preconceitos em relação aos nossos corpos e identidades”, afirma.

Além disso, Samela Sateré Mawé afirma que, ao serem categorizados de maneira equivocada durante a colonização, o termo “índio” unifica e padroniza os povos indígenas, retirando deles sua diversidade e multiplicidade. “O termo ‘indígena’ se refere ao povo que é originário daquele lugar, que estava ali e que sempre esteve ali, mesmo antes da invasão”, ela explica.

“No artigo 231 da Constituição, somos caracterizados enquanto povos indígenas, com cultura, língua e identidades diferentes. Não existe ‘índio’ ou ‘tribo’. Nos referenciamos desta forma enquanto mais de 305 povos indígenas que tem no Brasil.”

Quando Rodriguinho cometeu o erro, Isabelle disse que, agora, ele estava aprendendo e não cometeria mais este erro. No entanto, Samela explica que esta é uma das reivindicações mais básicas e recorrentes para que pessoas indígenas e originárias sejam tratadas de forma respeitosa e digna.

Ela ressalta ainda que, por mais que o assunto tenha tido mais visibilidade com o ativismo indígena mais potente nas redes sociais e na televisão, ainda não são escutados. O erro continua sendo recorrente.

“Interessante é que isso só é ouvido quando é falado por não indígenas. O preconceito é tão grande que, quando outra pessoa diz que não tem que chamar assim, escutam. Quando somos nós mesmos falando, não nos levam a sério.”



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