Em Trás-os-Montes, a meteorologia não está para futebóis. Neste sábado, o relvado do Desp. Chaves-Sporting esteve molhado, pesado e, em alguns locais, empapado, traiçoeiro e avesso a beleza futebolística digna de I Liga. Mas também não estava um “batatal” impróprio para desporto. Nessa medida, pôde jogar-se futebol – às vezes.
O relvado acabou por limitar várias acções técnicas dos dois lados e obrigou o Sporting a lutar muito para sair com o triunfo por 0-3, numa partida na qual conseguiu ter meia hora de “descanso”, depois de um 3-0 construído em cerca de 60 minutos.
O jogo, globalmente mal jogado, foi fértil em duelos, luta, reacção a erros técnicos e adivinhação de trajectórias imprevisíveis, algo que obrigou a labor especial, mais do que à repetição do bom nível futebolístico que a equipa “leonina” apresentou nas últimas semanas.
Além da vitória do Sporting, há outra notícia: Gyökeres não marcou, não assistiu e, em geral, não foi muito relevante. Ora aqui está uma raridade.
Desp. Chaves foi lá, mas voltou
O Desp. Chaves levou a este jogo um 4x5x1, ainda que se pudesse pensar que a entrada de Vasco Fernandes (que jogou a 6) promovesse uma defesa a três, até para facilitar referências de marcação frente ao 3x4x3 do Sporting.
A equipa “leonina” voltou ao seu sistema mais assimétrico, tendo novamente um ala, à esquerda, bastante mais projectado do que o da direita. E sem Edwards e sem Catamo os “leões” acabaram por insistir muito no corredor esquerdo. Mas sem especial sucesso.
Os momentos de perigo do Sporting, que existiram, resultaram mais de lances fortuitos e erros individuais do que de uma boa dinâmica colectiva “leonina”. A excepção foi o lance aos 10’, com um desenho colectivo interessante: Trincão a arrastar o lateral e a deixar Gyökeres, Paulinho e Nuno Santos em três contra três – a jogada acabou com cabeceamento do sueco, para defesa do guarda-redes.
De resto, o remate de Gyökeres, aos 12’, e o de Pote, isolado, aos 26’, resultaram de erros técnicos adversários.
Jogadas bem construídas, que foram poucas, só apareciam quando o Desp. Chaves saía em pressão mais alta, já que aí se deixavam ficar em quatro contra quatro ou mesmo cinco contra quatro, quando Esgaio, Nuno Santos e Pote se projectavam em simultâneo.
Mas isso deixou de acontecer por volta da meia hora, possivelmente com Moreno a analisar que era um risco grande procurar abafar a construção dos centrais “leoninos”, sobretudo estando com defesa a quatro – algo que o Estoril, por exemplo, nunca abdicou de fazer.
O Sporting chegou ao 0-1 aos 44’, num remate de Paulinho, perto da baliza, num lance confuso após um canto.
O golo acabou por surgir numa bola parada, sem especial engenho colectivo “leonino” em ataque posicional, mas, em rigor, deu nexo a um resultado que já poderia ter mexido várias vezes.
Jogo fechado em cinco minutos
Aos 51’ chegou o 0-2 num lance algo inusitado. Quantos seriam capazes de prever que o Sporting marcaria um golo sem Gyökeres sequer perto da área – fosse a marcar, a assistir, a puxar marcações ou apenas a estorvar? Provavelmente, poucos – sobretudo se o golo fosse marcado num cruzamento. Mas foi isso que aconteceu.
Num lance em que o sueco estava afastado da jogada, “estacionado” perto da bandeira de canto, um cruzamento de Nuno Santos teve finalização de grande qualidade de Trincão, na passada, com postura bizarra de Sandro Cruz, que ficou “a dormir”.
A partir daqui quanto maior foi o risco do Desp. Chaves, maior foi a probabilidade de haver espaço para Gyökeres usar em transições – algo raro numa primeira parte com marcação individual quase a campo inteiro.
Aos 56’, em mais um lance confuso na área do Desp. Chaves, Pote fez o seu remate “de assinatura”, num “passe à baliza” em zona frontal.
Conclusão: 0-3, jogo feito e mais de meia hora de futebol para o Sporting gerir, criar perigo em transições e para o Desp. Chaves definhar. Foi pouco mais do que isso o que se passou.