Carlinhos Brown e BaianaSystem brilham em Festival de Verão de Salvador, que sonha em se tornar o maior do país


Entre os vários encontros propostos pelo Festival de Verão Salvador, em sua edição de 2024 (que aconteceu sábado e domingo, no Parque de Exposições da cidade), um deu mais certo que os outros, logo no primeiro dia: o de Carlinhos Brown e BaianaSystem, dois capítulos da história da música pop carnavalesca de Salvador.

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Ao contrário de outros artistas, que reservaram três ou quatro músicas para os encontros, eles prepararam um show inteiro, “Patuscada Paredão”, em que conjugaram bandas, repertórios e o melhor que tinham a oferecer: a criatividade percussiva e festiva de Brown e a pressão sonora digital socialmente indignada do Baiana.

O show começou com uma apoteose da batucada em torno de “O Guarani”, uma das muitas músicas citadas na noite, em meio ao repertório conjunto. Brown comandou a primeira parte da noite em fogo brando e quando Russo Passapusso, MC do Baiana, entrou com seus versos, ele incendiou a plateia e fez abrir as primeiras rodas entre o público.

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A participação do guitarrista Roseval Envangelista, que Brown chamou de “o Hendrix baiano”, num improviso jazz-fusion-baiano, o “Pop raladão”, deixou clara a intenção do combinado de traçar uma história da música da Bahia, com reverência e um pique de dar inveja — especialmente no caso de Carlinhos Brown, de 61 anos. Tambores e beats, guitarra baiana e outras guitarras se aliaram num espetáculo de ritmos, sabores, ancestralidade e espiritualidade.

A interação entre os artistas foi natural e total. O “Sulamericano”, do Baiana, entra em “Cumbiamoura”, de Brown, que emenda em “Lucro”, do Baiana (“olha aí, Brown, os primos da Timbalada!”, grita Russo), e tudo leva a um “Magalenha”, do timbaleiro mor. A estreia do bate-bola do BrownBaiana deixou gosto de quero mais.

O sábado teve brilhos óbvios, como o de Ivete Sangalo, que levou a sua Salvador de muitos carnavais o show de 30 anos de carreira — agora renovada por um hit com Ludmilla, “Macetando”. Bell Marques, outra referência da folia exportada pela cidade, reviveu seus hits chicleteiros com voz, empolgação e o auxílio, em algumas músicas, de Claudia Leitte — respeitosa ao mestre, mas ciente do próprio estrelato. Já o encontro de Baco Exu do Blues e Psirico entrou pela madrugada, exercitando as novas possibilidades da música de Salvador em tempos de hibridismo geral.

Entre os forasteiros, a classe marcou o encontro RJ-SP de Iza (com um show cada dia mais aprimorado, de canto, dança, instrumental e estilo) e Liniker, que começou num tímido “Isn’t she lovely”, de Stevie Wonder e desabrochou numa envolvente “Baby 95”.

Direto do Rio, Cabelinho e o convidado TZ da Coronel abriram o sábado com a festa do trap. Foi bomba, tiro, porrada, autotune e romantismo enquanto caía a tarde, num show bem variado dentro do estilo, conduzido com carisma por Cabelinho. E ainda teve o baile da atração internacional, o cantor americano CeeLo Green, que enfrentou problemas de som mas sacudiu o começo de madrugada em um desfile de hits alheios, com DJ, no qual teve até citação de “Amigo”, de Roberto Carlos.

Aos 25 anos (os dois últimos com a direção artística de Zé Ricardo), o FVS enfrenta o desafio: de tornar-se o maior festival do Nordeste e, futuramente, do Brasil, afirma Zé. Com uma estrutura muito parecida com a dos atuais grandes festivais — roda-gigante, ativação de marcas, lounge com celebridades — ele se beneficia das atrações turísticas de uma Salvador no pré-Carnaval, rica em eventos a alguns dias da festa de Iemanjá.



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