O Corinthians busca novo técnico após optar pela demissão de Mano Menezes e, segundo informações do portal ge nesta segunda-feira, 5, tem Márcio Zanardi, do São Bernardo, como alvo favorito. Com passagens pela própria base do Timão, o treinador paulistano de 45 anos se destacou na equipe do ABC Paulista nas últimas temporadas e é tratado com um dos nomes promissores de sua geração. Em 2023, Zanardi concedeu entrevista exclusiva à PLACAR na qual relembrou sua trajetória e revelou seus planos.
A saída de Mano Menezes foi oficializada nesta tarde em breve nota oficial. O auxiliar Thiago Kosloski comandará o treinamento desta segunda. Caso seja mesmo o escolhido, Zanardi não poderá dirigir o Corinthians no Paulistão, já que o regulamento da competição proíbe que um treinador dirija duas equipes numa mesma edição. Neste caso, a tendência seria que o ex-jogador Danilo, campeão da Copa São Paulo com a equipe sub-23, retorne à condição de técnico interino.
Zanardi não foi jogador de futebol e iniciou sua carreira como técnico no time sub-15 do Pão de Açucar (PAEC), em 2004. Em seguida, dirigiu equipes de base do Vilnius, da Lituânia, do Al-Nasr, dos Emirados Árabes, antes de passar por Corinthians, Guarani, e Santos.
Apesar de ter colecionado ótimos resultados, foi demitido do sub-17 do Timão em 2016, em meio a denúncias de participação de seu pai, o empresário Wilson Zaponi, em um esquema de suborno – em entrevista à ESON, ele negou e disse ter sido vítima de retaliação por ter reprovado um atleta em uma avaliação. O atual presidente do Corinthians, Augusto Melo, era assessor da base na época.
Em sua primeira experiência como treinador principal, Zanardi levou o São Bernardo ao título da Copa Paulista de 2021, ao acesso à Série C do Brasileirão em 2022. Em 2023, levou o time à segunda melhor campanha da primeira fase do Paulistão, atrás apenas do Palmeiras, seu algoz nas quartas de final e que se sagraria bicampeão.
Em entrevista à PLACAR TV, Zanardi abriu o jogo sobre sua filosofia de trabalho, assédio de outros clubes, as comparações entre técnicos brasileiros e estrangeiros e sobre a influência de Jorge Sampaoli, recém anunciado pelo Flamengo, em sua carreira. Também deixou claro que sonha alto: ‘Falo inglês e me preparo diariamente, quem sabe eu não possa ser um treinador de Champions League? Gosto muito da Premier League. Não sei se vou chegar, mas me preparo para isso diariamente. Sei onde estou e faço tudo com calma e tranquilidade, mas por que não?”, questionou. Assista à integra e confira alguns trechos, abaixo:
Zanardi revelou que a ótima campanha no Estadual de 2023 lhe rendeu propostas, mas preferiu seguir no São Bernardo, que por pouco não conseguiu o acesso à Série B (parou na semifinal, atrás de Brusque e Operário). “Tive cinco ou seis propostas para sair, mas estou muito engajado num projeto importante para desenvolver o que acredito. É um projeto novo se auto-sustentando”, disse Zanardi, na ocasião.
‘Estágio com Sampaoli’
Antes de chegar ao Tigre, Zanardi trabalhou durante muitos anos como treinador das categorias de base de Portuguesa, Corinthians e Santos, e participou do desenvolvimento de estrelas como Marquinhos, Gabriel Martinelli, Yuri Alberto, Kaio Jorge, entre outros. Também conquistou diversos títulos, em diversas categorias, mas garante que seu melhor “estágio” foi justamente no período de maior insucesso dentro de campo.
Em 2019, ele era treinador do sub-20 do Santos quando ouviu um convite da comissão de Jorge Sampaoli, o treinador da equipe principal. O argentino pediu a Zanardi que selecionasse seus melhores atletas e lhe ajudasse a treinar a equipe profissional com base na formação de jogo de seu próximo adversário. “Eu não entendia bem o esse conceito de sparring, a gente só conhece do boxe. Ele me pediu uma seleção dos melhores sub-20 e sub-23 para treinar com os profissionais. Tinha Yuri Alberto, Kaio Jorge, Marcos Leonardo, Ivonei, Sandri…” conta o técnico, que poderá reencontrar Yuri Alberto no Timão.
“O Santos ia jogar contra o Flamengo do Jorge Jesus eu montava uma organização ofensiva para treinar a defensiva [e vice-versa]. Ele realmente gastava os sparrings. Isso era na quarta de manhã e à noite eu ia jogar [pelo sub-20] com o São Paulo no Morumbi e perdia, claro. O Paulo Autuori [diretor de futebol] me dizia: não fique preocupado com o resultado, você está ajudando o profissional, essa era a metodologia. E eu pedia que ele avisasse isso ao presidente também”, brincou Zanardi.
“Foram seis meses dessa dificuldade, mas valeu a pena porque o Santos foi vice-campeão brasileiro. O Sampaoli até me chamou para ir para o Atlético Mineiro, seguir como treinador do sparring, mas eu não quis, expliquei que minha meta era também virar treinador. Foi um ano de trabalho de resultado esportivo péssimo, mas foi um estágio de um ano e dois meses com um dos melhores técnicos que eu poderia ter”, diz, ressaltando que a convivência com o argentino não era tão fácil.
“Muitas coisas minhas se assimilavam com o que ele pensava. Personalidade não muda, eu também tenho a minha, que é forte, e no começo pensei que teríamos atritos, porque o Sampaoli realmente é um cara muito difícil de lidar, não sei como acabei caindo nas graças dele. Mas talvez, até pelo fato de eu sempre falar o que eu pensava, não só o que ele queria ouvir. Ele me abraça e diz a todos que o Márcio faz parte da minha filosofia (…)”disse.
Zanardi contou que Sampaoli chegou a abolir a folga de domingo e segunda de manhã, e passou o descanso para segunda à tarde e terça-feira, visando uma melhor recuperação dos atletas. “Ele mudou a parte cultural do brasileiro. Imagine, no domingo o time ganha, o jogador quer sair com a família, ir para uma balada, mas tinha que ir para a concentração. Foi difícil. Ele mudou, mas conseguiu mostrar para o jogador que o resultado estava acontecendo. Com todo respeito, aquele time do Santos não era para ter sido vice-campeão. Ele deixou um legado de muita inteligência e conteúdo. Treinos curtos e intensos, de no máximo uma hora. E é um cara que não contava história para o jogador. Nada contra quem faz, mas ele acreditava 100% no campo.”
O jovem treinador também falou sobre a importância dos cursos que realizou, na CBF, na federação argentina e na Uefa, e ressaltou sua filosofia de jogo. “A gente não pode perder a essência do futebol brasileiro. Tem que dar responsabilidade setorial, mas no último terço vai para dentro, pedala, dribla… eu treino fundamento. Mas no Brasil é assim, a Espanha foi campeã, vamos copiar os espanhóis, Portugal foi bem, vamos copiar os portugueses, a Alemanha… Temos que copiar o profissionalismo, a estruturação, mas a nossa essência temos de manter.”
O Corinthians é o atual lanterna do Grupo C do Paulistão, com apenas três pontos em 5 jogos. Tem a segunda pior campanha, atrás apenas do Santo André, e na próxima quarta-feira, 7, visita o Santos na Vila Belmiro.