Um caso raro de gravidez ectópica em Ponta Porã, na região sul de Mato Grosso do Sul, surpreendeu os médicos do hospital regional da cidade. Uma idosa, de 81 anos, descobriu que carregava um feto calcificado há mais de 56 anos — período em que ela teve a sua última gestação. A idosa, que era indígena e morava em um assentamento no município de Areal Moreira, morreu após a cirurgia para retirada do feto.
A paciente deu entrada no hospital com um quadro de infecção grave em 14 de março. No mesmo dia, uma tomografia 3D constatou o feto calcificado na região do abdômen dela. A equipe de obstetrícia da instituição foi acionada e realizou a cirurgia para retirá-lo, mas a idosa morreu no dia seguinte após a cirurgia de retirada.
Segundo especialistas, o nome da condição é litopedia, um tipo de gravidez ectópica, ou seja, quando o óvulo fecundado não chega ao útero ficando preso em outros lugares, como no cólo do útero ou até mesmo no abdômen. No caso da idosa, o feto de uma gravidez abdominal não reconhecida que morreu e se calcificou dentro do corpo da mãe.
O que é gravidez ectópica?
Apesar de ser uma condição pouco frequente, ocorrendo em cerca de 2% das gestações, ela é a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre de gestação. Cerca de 90% das gestações ectópicas são tubárias, ou seja, que ocorrem nas tubas, o que acaba resultando em um perigo ainda maior para a mulher.
O embrião implantando continua crescendo na estreita tuba uterina. Depois de três semanas o tamanho do embrião é o suficiente para causar uma pressão por dentro da tuba, capaz de rompê-la, resultando em uma hemorragia que pode ser fatal se não for tratada com cirurgia.
Os principais sintomas enquanto o embrião cresce na tuba são dores abdominais unilaterais, sangramento vaginal e desmaios. Quando há o rompimento, os sinais se intensificam: a paciente sente uma dor aguda ou dilacerante em um lado do abdômen, perto da virilha, e apresenta queda da pressão arterial e outros sintomas de choque.
As mulheres que têm mais risco de gravidez ectópica são aquelas que já passaram por uma anteriormente, mas também há uma grande possibilidade naquelas com infecções pélvicas ou cirurgias uterinas prévias. A fertilização in vitro também aumenta as chances de se ter uma gravidez ectópica. Entretanto, em metade dos casos, as mulheres eram saudáveis e não possuíam nenhum fator de risco.
O tratamento para este tipo de alteração também vai depender do histórico de saúde da grávida e os riscos de uma possível ruptura do tubo uterino. Geralmente, as mulheres saudáveis recebem uma injeção de metotrexato, que é também usado para tratar certos tipos de câncer e distúrbios autoimunes e dificulta a formação de DNA ou a multiplicação das células. Com este medicamento, o embrião para de crescer, e o organismo acaba por reabsorvê-lo.
Caso haja o rompimento da tuba, a gestante precisa passar por uma cirurgia de emergência, onde é retirado o embrião. Nos dois casos, tanto com a cirurgia ou com a injeção, o processo de gestação é interrompido, o que faz muitas pessoas acreditarem ser um aborto.
Entretanto, com ou sem intervenção, gestações ectópicas não sobrevivem além dos primeiros meses. Dificilmente um óvulo fecundado sobrevive por muito tempo fora do óvulo, visto que outras estruturas do corpo não são capazes de proteger ou nutrir um embrião.